SONETO DA SARDINHA

A cama não é lata e a mulher

É suculenta, mas não é sardinha

Que a boiar em óleo e sem espinha

Sirva de apetitoso de comer.

Os tubarões que pensam que só é

Comê-la e saciada a fominha

Limpar a boca e ir-se de fininha,

Têm das sardinhas muito a aprender.

Cansadas de viver sem ter apreço

Servir de caviar e não ter preço,

Algumas saem da lata, a mágoa em feixe.

E no aquário de uma área nobre

É que a mulher-sardinha enfim descobre

Que embora cheire embaixo, não é peixe.