ROTINA

Um dia, sem motivo, algo em nós

Desperta, e sobre a cama envelhecida,

Notamos que debaixo dos lençóis

Há uma vida ausente, outra esquecida.

E a colcha amarrotada, retorcida,

Pelo casal nos sonhos sempre a sós,

Acusa que a amizade foi rompida

E aos corpos a apatia se impôs.

A rotina se fez inesperada,

E adentrando a fria madrugada

Nos ossos e nas almas se instalou.

No amanhecer, sentimos que os sonhos

São pesadelos e ecos tão medonhos

Ressoam fundo onde havia amor.