VIDRAÇA MORAL

Há entre mim e a joia muito rara

Uma vidraça frágil a quem ver,

Mas o bastante forte pra conter

Quem não tem como haver prenda tão cara.

- Quebra o vidro! A voz do mal dispara

A espoleta dum mau proceder.

- Entra e compra! O bem chega a dizer

Na voz de um anjo suave e bem clara.

Sendo raposa a apreciar a uva

Fora do alcance, igual a quem não usa

O mal misturo a mim no rol que passa.

Sei que em vitrines há, numas não vejo,

Mas não é vidro a força que o desejo

Contem a posse à joia da vidraça.