GRITO
Cala-se o amor, porque falar não pode:
O desengano impõe-lhe a mordaça
E o grito, a sufocar-se na vidraça,
No hálito da dor de vidro explode.
E se lá fora o ar quente sacode
A peça transparente em que se embaça,
De dentro as gotas gravam a desgraça
Que grita o silêncio em sua ode.
E quão terrível grito é o do silêncio
A ensurdecer a alma, sendo o fio
Da lâmina aguda que lhe corta.
E se cala-se o amor, e qualquer fala
Não vai além do frio vão da sala,
Também, a esperança está morta.