Alguns sonetos 4
A arte de navegar à deriva, sem pensar em nada
Timoneiro e farol dessa embarcação
somática e psíquica comanda o pedido
à serviçal libido em inquietação
que se alevante e pague o consumido,
mas como boa vadia a libido não paga,
só quer ser satisfeita e mais nada!
Elevada ao vício; anda de saia rasgada,
calça abaixada à vista a vulva ou a baga
com o seu mastro em riste em inconveniência,
que ainda assim encontra enseadas tépidas
para os seus naufrágios em maior leniência;
até que os suprimentos tornem-se carência,
e ao desejo deem-se as despedidas,
porque o dinheiro acaba se não há sapiência.
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Terror e êxtase, gaivota de papel
Sabia o salteado, o de cor não sabia
o que o botava em fuga não sabia o quê;
o cercado de casa fazia-o cercado;
entre duas paredes onde não se entre
sem que ambas se estreitem, para que assim sem
saída, não saiba em sua mente encontrar saída,
bate alguém à porta; quem será que bate?
Não gritou por ninguém, não quer ver ninguém não;
ladrão, ladrão, ladrão: chamem o ladrão!
Síndrome de Estocolmo; quero ser a síndrome,
o porteiro da noite, quem manda é o porteiro;
antes que ele delate, mande matar antes,
avião com muita cocaína, meu avião:
voe com todas provas do poema; ah! Voe! ...
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Tempo presente em certa ausência
Sentir desolação é um momento raro
em que a tristeza ascende sem nublar o céu,
em que a máscara cai e o rosto fica claro,
em que na mente acaba todo escarcéu
da falsa alegria, euforia maldita,
da quebra do roteiro sempre repetitivo,
da dramática farsa que é a desdita
em que sujeito tolo se finge de vivo,
caindo na inércia, original preguiça,
em que sem reação a cabeça enguiça,
da forma mais cabal ao perder a vontade
de alguma afeição que seja de verdade,
em mar de calmaria antes que entre em liça
como o tempo voraz que tudo desperdiça.
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Tempo generoso
Quando o vício se torna um tédio a cura
aconteceu; fascínio cessa, tudo acaba,
o desejo vai em rumo à outra procura,
o chapéu sem a aba ganha uma aba
onde a emoção circula com a razão
e os pés pisam o chão com maior tranquilidade,
são leves caminhantes sem precipitação
em passeios pelas ruas da cidade;
antes eram pesados, puxavam correntes,
eram escravizados ao hábito ruim,
não importa qual vício, qualquer vício, oras,
amigos de verdade ficam mais contentes,
as mulheres o veem bem menos chinfrim,
o homem libertado é o senhor das horas.