Casa mal assombrada - 3 sonetos amedrontados
Não há conhecimento sem conhecer o medo,
veja a insegurança em que vive o mundo,
tudo que nos é imposto tem sempre o seu dedo,
o medo só não alcança o que é o eu profundo,
morada em sossego um dia construída
por nosso pensamento que é o maior obreiro,
não só na intenção de proteger a vida
nem de vencer o medo todo por inteiro,
casa mal assombrada vem sendo o planeta,
no entanto sedutor que delicia o esteta,
sem que haja harmonia nem na natureza;
muito menos no homem que te esbofeteia,
ou da mulher que vive só da sua boceta
coragem de vencer sem ter qualquer beleza.
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Terror noturno
Antes que o choro viesse, o vi, era um menino,
e a poeira nos olhos vinha de interiorano
âmago e antes de o medo virar o clandestino
que atormenta a alma, que eu mesmo empano
para esconde-lo rápido e cheio de vergonha
chacoalhou o lustre para estragar diálogo;
era o terror noturno. E quem dorme ou sonha
quando a alma está em pranto e só em rogo?
Desde o desamparo que foi instintivo
o primeiro protesto foi calar a boca,
o ódio desse medo deve ter gerado
o sarcasmo e o estado nervoso aflitivo,
o médico acorre então ao leito e o toca.
Pega-o em seu colo, estava bem gelado.
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Bullying
Que há de tão estranho no fraco ser fraco,
a não ser a fatuidade de quem se acha forte
precisar desse espelho, bem antes da morte,
onde o definitivo é rosto em osso e caco;
onde há fraqueza além dessa musculatura
na sábia humildade que é a fortaleza,
do fraco e do forte nessa ossatura
casa do nosso espírito onde a beleza
transcende a estética e tem mesmo feiura
na falta de caráter ou no sofrimento
que o gesto imperfeito traz a quem pratica;
mas tudo que nos faz ter essa caradura
é fazer o outro ser nossa lente de aumento,
na mais porca, errada e insana matemática.