SONETO ABSURDO

Decido atravessar o abismo que me separa da realidade,

Utilizando, apenas, a estrutura frágil de uma corda-bamba.

Ao início da travessia, que sei longa e cheia de ansiedade,

Pressinto, antes do final, o som do meu corpo, que tomba.

Ventos irracionais e cortantes tentam desequilibrar-me;

O cordel ondeia resoluto, como se fosse mar encarpelado.

Auxílio, de modo algum virá, por mais que eu chame;

Forças contrárias e cruéis assaltam-me por tudo que é lado.

No meio da travessia, quase vencido o medo, uma surpresa:

A paz despenca sobre mim, num banho de chuva ácida,

Corroendo-me a pele e a vontade, que, no abismo, se embalança.

Fecho então os olhos ardentes e relembro o passado infinito.

Nada encontro, por mais que insista em procurar com cuidado.

A noite vem e se fecha, embalando-me ao som do meu próprio grito.

- por JL Semeador de Poesias, em 28/08/2012 -