% sonetos

A beleza da paz

Em cada pincelada uma carícia

: - mulher de uma cor morena-sépia,

modelo delicada, especiaria;

carícia redundante em carícia.

Ainda em tinta fresca sobre a tela,

como se suarenta assim mais bela,

estrela entre as estrelas das estrelas,

preciosa como a nós dos avelãs.

Sem nome, que importa. Inominável

é a beleza plena em plenilúnio,

que afasta do incauto o infortúnio,

e o traz uma alegria maior que o céu;

e enquanto o céu for céu e o unicórnio

parar; beleza nos fará da paz prenúncio.

Linda

Desde o joelho ao céu, o olhar distraído

revela algum pudor, e se o olhar na minha

mira agora não está, onde o olhar caminha

não posso imaginar; não estás sob vestido

e a nudez não plena revela, mais que tudo,

significação da beleza e fortuna,

ou mistério gozoso sem nenhum escudo

que leva o olhar ao seu corpo ser una

visagem, absoluta; integridade harmônica

entre alma e o corpóreo, razão que estica

o verso ao teu lábio para não ser dito;

como se fosse beijo íntimo em recôndita

fortaleza, onde bela e protegida está

ao sempre preservada a beleza linda.

Toda altura

Sombra reveladora, quase um negativo

de foto, onde mulher, em branco e preto,

em sensualidade faz olhar redivivo

do poeta cantar como se chuva em coreto

celebrasse alegria do momento.

Quando ao fotografar para memória

vê sua bela musa fazer história

ao ser da poesia instrumento

único, que permite o amor pleno

à beleza, à alegria, ao contentamento.

Se não pode vida ser melhor do que é,

que a bela seja o belo, sob o sereno

de luz esmaecida, sob firmamento,

quando o poema a beija da cabeça-ao-pé.

Canja de enfermo

Tem na essência sândalo ao vento

perfume que a abstrai contra sandice

do marido alcoolista um tormento

foge para evitar disse-me-disse...

Tem na alcova o hálito etílico

bafejando bem forte no cangote,

dum sujeito que nem pobre nem rico,

recompõe-se abstêmio pra consorte

aturá-lo maior tempo ao lado,

ainda assim já está tudo acabado,

pois trabalho que é bom não se arranja.

Só com olhar o verde mareado,

c'os olhos injetados e babado,

seu destino será doença e canja.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 26/08/2016
Código do texto: T5740199
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.