FOME
Quisera eu entender se esse calor,
a me abrasar com tal intensidade,
é mesmo amor... Talvez, casualidade?
Ou ilusão que só me faz supor
o fado, enfim, tomou-se de piedade
e me rompeu a taça de amargor,
onde sorvi o fel do desamor
e me embriaguei de dor e soledade?
Eu sequer sei se bênção... Maldição...
Será que é liberdade... Ou servidão?
Se me perdi de mim e fiquei louca?
Mas sei que me arrebata, me consome,
que aguça meu desejo e minha fome
de ter o amor beijando minha boca!
(in Sonetos em Dor Maior)