SONETO EM DOR MAIOR
Eu sou a peregrina da tristeza,
na procissão das horas da saudade,
que andeja pelas ruas da incerteza,
no entardecer envolto em soledade,
sem cantos, sem andor, sem vela acesa,
somente o véu da noite por piedade;
sem Deus, santo refúgio e fortaleza,
sem fé, sem oração, sem santidade,
tangida por insana persistência,
gritando por teu nome, porta em porta...
Ninguém responde à voz exangue e rouca.
Eu sou a dor maior, dor sem clemência,
que arrasta uma esperança semi-morta...
Eu sou a peregrina errante e louca!
(in Sonetos em Dor Maior)