ENGANO
Por quem te cri... Me desguardei, abri meu peito,
me desnudei ao teu desejo, em verso e prosa.
Rompi amarras, desfiz leis, abri meu leito
para acolher-te em cetim, renda e flor de rosa.
Por quem tu és... Fiz do silêncio meu preceito,
morreu-me a rima, compungida, desditosa...
Joguei ao léu os sonhos de um amor perfeito,
guardei quem sou, fugi da vida, pesarosa.
Por quem te cri... Por quem tu és... Como entender
a senda errante onde andarilha teu viver,
que tens o inferno em teu olhar de querubim?
Que trazes n’alma um desamor tão inclemente...
Que fez morrer dentro de mim o sol nascente
e macerou o sonho que eu sonhei pra mim?
(in Sonetos em Dor Maior)