PECADO
O sino embala o fim das horas do meu dia,
e a noite estende um negro véu sobre os telhados;
meus dedos correm no rosário, Ave Maria...
E, conta em conta, vou remindo meus pecados.
Mas é pecado embevecer-me co’a magia,
de um certo olhar a traspassar-me com seus dardos?
Dardos que acendem meu desejo e a fantasia...
De ter meus lábios, por seus lábios, cortejados.
Ave Senhora, a mais bendita, gratia plena,
bem dentro em mim existe um quê de Madalena,
que se fascina com o fruto proibido...
Roga por mim, que os anjos teus tornem banido,
esse demônio que não teme represália,
que se aventura e anda no fio da navalha.
(in SONETOS EM DOR MAIOR)