NÃO LIGO
Não ligo que me escarre a boca que me beija,
Tampouco que apedreje a mesma mão que afaga.
O pecado de vida é o próprio ser quem paga,
Mas sofre a dor alheia quem rancor despeja.
Não brindo à ingratidão, pois, de quem quer que seja,
Exprime dissabor, e a todo brilho apaga,
E volta para si quem roga ao outro praga.
Só rogo ao meu irmão que Deus o guie e reja.
Não ligo que se volte contra a mim quem era
Antes meu braço forte, e hoje em sua quimera
Só me deseja o mal, e não mais me quer bem.
Não é porque o ódio lhe varreu a luz
Que eu vou me entregar à sua mesma cruz.
Cada um pode dar somente o que se tem!