COMUNHÃO

Que, hoje, eu comungue do sofrer do nordestino,

a quem a terra nega um prato de comida.

Que eu sinta a dor de quem, na vida, é clandestino,

pois, por um vírus, faz-se gente preterida.

Que eu seja amparo da mulher em desatino,

em prol dos homens sempre usada, consumida;

e dos menores marginais, cujo destino

é morte inglória, cova rasa, alma perdida.

Que em comunhão com o universo brasileiro

- tão desprovido do direito verdadeiro -

eu me transmute em cada irmão sofrido, exangue.

Somente assim, meu Deus, terei merecimento,

(pois do lutar por igualdade não me isento)

de receber em Comunhão Teu corpo e sangue.

(in Sonetos em Dor Maior)

Patricia Neme
Enviado por Patricia Neme em 26/10/2013
Reeditado em 13/10/2014
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