COMUNHÃO
Que, hoje, eu comungue do sofrer do nordestino,
a quem a terra nega um prato de comida.
Que eu sinta a dor de quem, na vida, é clandestino,
pois, por um vírus, faz-se gente preterida.
Que eu seja amparo da mulher em desatino,
em prol dos homens sempre usada, consumida;
e dos menores marginais, cujo destino
é morte inglória, cova rasa, alma perdida.
Que em comunhão com o universo brasileiro
- tão desprovido do direito verdadeiro -
eu me transmute em cada irmão sofrido, exangue.
Somente assim, meu Deus, terei merecimento,
(pois do lutar por igualdade não me isento)
de receber em Comunhão Teu corpo e sangue.
(in Sonetos em Dor Maior)