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Te deixo quadros, livros, cobertores,
- e o ciúme, sempre tão sem fundamento! -;
também cada panela... E “Os Três Tenores”...
- por fim, se esgota o veio do tormento -.
A casa... E esse jardim sempre sem flores...
- qual foi nosso viver: de amor isento!-;
os móveis – e quaisquer outros valores...
É tudo teu, sem queixas, sem lamento.
Comigo... Vão uns restos de esperança,
pedaços de um sonhar que não se cansa
de acreditar que a vida não morreu.
Comigo, do existir, a liberdade,
e o alívio de não mais sentir saudade
de tudo quanto fui... E ainda sou eu!
(in Sonetos em Dor Maior)