SONETO
A forma exata, verso denso, amortalhado,
regras severas dão limite à liberdade.
Rimas precisas, de um sonhar metrificado,
conciso canto, em compassada austeridade.
Exatidão... Um improviso é renegado...
Tudo a ser dito, com rigor e brevidade.
O pensamento é andarilho acorrentado
pelos grilhões da perfeição... Ingenuidade
de quem pretende, no soneto, a forma rara,
de lapidadas emoções... Rosto sem cara...
Sem os arroubos da intempérie das paixões.
Quando eu soneto, grito a dor que me ataranta,
falo do amor, que engasga a voz, fecha a garganta,
eu me desnudo, sem preceitos, sem senões.
(in Sonetos em Dor Maior)