O CORVO DE PÓ*
Pela janela, eu vejo, na soleira
Do meu portão, figura amarga e só.
Parece ser de pedra ou de madeira,
Mas, na verdade, ele é feito de pó.
Vai desfazer-se ao vento, de maneira
Que esquecerei seu murmurar sem dó.
Não há de ser-me algoz a vida inteira,
Pois hei de desatar-me de seu nó.
Figura horrível de augúrios fatais,
Não venhas a dizer-me "nunca mais",
Que o que mais vale ainda não foi perdido:
Nem tempo, nem distância ou mesmo a morte
Ha de impedir que amor tão puro e forte
Alcance, de algum jeito, o ser querido...
10/02/2013
*(Referência ao poema 'O Corvo', de Edgar Allan Poe)