SONETO A UMA MULHER BRIGUENTA


Dou toque-e-retoques sem achar-te o jeito
De veres-me perfeito nesses teus ciúmes:
Se avisto os cumes, estufas-te o peito,
E me pões afeito ao fedor de estrumes...

Nada te faço sem que, apressada, arrumes
Fingidos queixumes com arte e despeito:
Dou-te o direito a sentires-me ciúmes,
Dares-me aos perfumes o mais vil defeito;

Que eu, bem é certo, ouvir-te-ei calado
O injusto ralhar, e alheio ao meu enfado,
Estender-te-ei a mão para mais um bolo.

E se passo, de ti, indiferente a tudo,
Nem sequer percebes, do meu ódio mudo,
O quanto sou sábio em me fazer de tolo!
Aécio Cavalcante
Enviado por Aécio Cavalcante em 01/02/2007
Reeditado em 25/03/2007
Código do texto: T366626