NARCISO
Escrevendo à luz vaga de uma vela
sinto tocar-me a mesma e fria brisa
que a chama agita e sombras na janela
cria, como um balé que a alma realiza.
Por um momento, vejo-me na cela
vazia de meu próprio ego - a lisa
face de meu desejo se revela,
sou eu mesmo quem surge e me entroniza.
Noutro momento, toco a cristalina
face de um lago infindo, acaricio
meu rosto, refletido, sem pudores ...
Quando volto a mim, luto - mas termina
o transe - a chama presa ao pavio,
eu preso a mim, atado em meus temores.
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