Tristeza

Quero deleitar-me neste sôfrego abandono

Na vida que me tem neste puro sofrimento

Enaltecido nas entranhas da dor em que padeço,

Incólume no âmago em que nela me entristeço

Inspiro nesta vida toda falta de apreço

Por mim, então exalo o meu descontentamento

Quando o ar que eu respiro não tão simples quanto tento

Faz-me peixe em terra seca: no meu ser então feneço

De tão pura a mocidade por que fica na querença

Eis que nesta lembrança onde enfim eu me apego,

Evado em mim mesmo, calmo, frio, mudo, cego

Esvaindo-se com o tempo em marmórea indiferença

Vão-se os meus pensamentos nesta vida em que nego

A mim mesmo a liberdade, em tristeza tão imensa...