Ave Canora
Bailou no ar como se fosse pluma ao vento,
pousou, bem leve, no galho da laranjeira,
arrepiou a bela plumagem na brisa fagueira,
lançou ao céu um canto de contentamento...
Pairei pasmo, admirado, por longo momento,
tão logo ouvi tal melodia, tão harmoniosa!
E de repente a vida se fez mui silenciosa,
para embalar-se naquele som de puro alento...
Não logrei furtar-me a um pulcro pensamento,
talvez mais formoso que a sonora clave de sol,
que fosforescia em minha mente naquela hora:
Todas as notas daquele suave e doce acalento,
eram nada menos que beijos mandados ao arrebol,
pel’alma da terra, transvertida em ave canora!...