Soneto de Crucificação
Deus meu, Tu és a fonte d'águas vivas
Grandíssimo Senhor, inigualável
T'a glória é pra mim inalcançável
E ecoa a todo canto as rogativas:
Atai-me, Jesus Cristo, atai-me os braços
Pregai m'as mãos e pés, vertei-me sangue
Deixai que esteja unido, e fraco, e langue
Na via dolorosa estar meus passos.
A cruz que é vil, maldita, fez-me santo
Que rude altar! Novilho imaculado...
Levou as culpas Cristo sem pecado.
Ao ressurreto, pois, eu me quebranto
T'a graça me atraiu, deixou-me atado
Rogando "crucifica-me ao Teu lado".
//Soneto inspirado no poema "Buscando a Cristo" de Gregório de Matos. Não pude deixar de dispor esse maravilhoso soneto dele:
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.