SONETO DESILUDIDO
Não digo e não vejo e não sinto e não quero
Não bebo e não cheiro e não toco e não sonho
Não escrevo e não penso, não canto e não espero
Não conto, não ouço e não leio e não ponho.
Mas se digo o que vejo, sinto e quero
E, então, bebo, cheiro, toco e sonho
Penso e depois escrevo, canto e mais espero
E conto o que li e ouvi pois a vida reponho
Decido que é melhor não sentir nem querer
Percebo que é perigoso demais o sonhar
Porque não há mais o que por ou propor
O certo e o verdadeiro é mesmo o descrever
O óbvio e o corriqueiro é mesmo dessonhar
Porque não há mais nada a transpor.