Senzala

Escrevo-te amiúde, livre e instante

Morta frase, qual fria, incólume, errante

Um verso mudo, pobre, triste, torto

Na intenção um desencontro a sós no porto

É farol que guia, sina tão marcante

Vem do cais dos teus olhos, luz cadente

Em meus ais, adeus, pranto, desconforto

Sem direção, sem rumo, onda, aborto

Mas nunca morre: chora, sofre e cala

No afã em que vive, triste, rude e finda,

Efêmera e vã, funda e furta vala

Atada em rima, quente, mas que para,

Gélida poesia, minha, sua, amarrada

Em nossa dista vida: sua senzala!