Diálogo
I (Sabedoria)
Entra a sabedoria, cena um
Com lívidos cabelos, barba branca
Co'olhar indagador e incomum
E com introdução de fala franca:
_Sabedoria, tantas vezes eu
Os olhos cegos faço esclarescer
E quem atende a voz, ao clamor meu
Deleitar-se-á, irá reverdecer.
_Endireitai o vosso caminhar
Fazei destas muralhas vosso lar
Atendei, povos, este meu discurso.
_E compreendei: Sou dádiva divina
Àquele que me busca e tem estima...
Corrente d'água... a vida é o meu curso.
II (Insensatez)
A insensatez na cena dois se mostra...
Vem titubeante, mesmo assim soberba
Ela, à sabedoria se prostra
Sarcasticamente (ela exacerba):
_Hipócrita és tu, oh Sabedoria
Quem sabe mais que tu sou eu, (que lira!)
Meu cálculo é preciso... Mente fria
Mas é verdade: Tudo que é mentira!
_Faço dos homens tolos meu sustento
E deturpar o bem é meu intento
(Sou eficaz, são muitas minhas presas).
_Por essas e por outras eu supero
A ti, sabedoria. Eu te enterro!
Oh vinde, homens, tenham tais riquezas!
III (Verdade)
Por fim, e mansa e humilde (cena três):
Com seriedade mostra-se: A verdade
Fala à Sabedoria e à Insensatez
E seu juízo faz co'autoridade:
_Ouví agora tu, Sabedoria
Pois meu juízo é certo: Tu és bendita!
Ainda que são pouco'os que a alegria
Têm de te conhecer, amiga quista!
_Mas tu, insensatez, sinceramente
Conquistas muitos homens de repente
E assim será teu fim: Mal repentino.
_Adeus, adeus! Porque vou me ausentar
Que vades vossos atos praticar
Que vem o julgamento que é divino.
Saem juntas a verdade e a sabedoria...