Diálogo

I (Sabedoria)

Entra a sabedoria, cena um

Com lívidos cabelos, barba branca

Co'olhar indagador e incomum

E com introdução de fala franca:

_Sabedoria, tantas vezes eu

Os olhos cegos faço esclarescer

E quem atende a voz, ao clamor meu

Deleitar-se-á, irá reverdecer.

_Endireitai o vosso caminhar

Fazei destas muralhas vosso lar

Atendei, povos, este meu discurso.

_E compreendei: Sou dádiva divina

Àquele que me busca e tem estima...

Corrente d'água... a vida é o meu curso.

II (Insensatez)

A insensatez na cena dois se mostra...

Vem titubeante, mesmo assim soberba

Ela, à sabedoria se prostra

Sarcasticamente (ela exacerba):

_Hipócrita és tu, oh Sabedoria

Quem sabe mais que tu sou eu, (que lira!)

Meu cálculo é preciso... Mente fria

Mas é verdade: Tudo que é mentira!

_Faço dos homens tolos meu sustento

E deturpar o bem é meu intento

(Sou eficaz, são muitas minhas presas).

_Por essas e por outras eu supero

A ti, sabedoria. Eu te enterro!

Oh vinde, homens, tenham tais riquezas!

III (Verdade)

Por fim, e mansa e humilde (cena três):

Com seriedade mostra-se: A verdade

Fala à Sabedoria e à Insensatez

E seu juízo faz co'autoridade:

_Ouví agora tu, Sabedoria

Pois meu juízo é certo: Tu és bendita!

Ainda que são pouco'os que a alegria

Têm de te conhecer, amiga quista!

_Mas tu, insensatez, sinceramente

Conquistas muitos homens de repente

E assim será teu fim: Mal repentino.

_Adeus, adeus! Porque vou me ausentar

Que vades vossos atos praticar

Que vem o julgamento que é divino.

Saem juntas a verdade e a sabedoria...

Edmond Conrado de Albuquerque
Enviado por Edmond Conrado de Albuquerque em 22/03/2010
Reeditado em 08/04/2010
Código do texto: T2153188
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