ROSTO PRECÁRIO

Caiu-me um rosto que não o meu

No entanto, este, líquido e sorrateiro.

É um reflexo no espelho – sou eu

E teimo em não querer vê-lo.

Ele sorri, debruçado sobre o papel.

Odeio-o por isso e por isso o nego

Rasgo-o em pedaços sou muito cruel,

Contudo, se refaz e estou cego.

Em sombras minhas mãos mergulham

Na água fria, um corpo gélido, escuridão.

Em sombras sou eu que vou...

Ao encontro de sombra procuram

Minhas mãos outras mãos e, em vão,

Sei-me: um rosto caído e o que ficou.

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 07/10/2009
Código do texto: T1852414
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