ROSTO PRECÁRIO
Caiu-me um rosto que não o meu
No entanto, este, líquido e sorrateiro.
É um reflexo no espelho – sou eu
E teimo em não querer vê-lo.
Ele sorri, debruçado sobre o papel.
Odeio-o por isso e por isso o nego
Rasgo-o em pedaços sou muito cruel,
Contudo, se refaz e estou cego.
Em sombras minhas mãos mergulham
Na água fria, um corpo gélido, escuridão.
Em sombras sou eu que vou...
Ao encontro de sombra procuram
Minhas mãos outras mãos e, em vão,
Sei-me: um rosto caído e o que ficou.