LÍNGUA
Língua breve, toda clara, toda escura,
Aos poucos caminha, para, continua.
E entre o areal, a bruma, a leve chuva.
A face se mostra, inquieta e muda.
Língua instante – objeto nada – rara, pouca.
Para, continua, para, tonta e louca.
Ensaia um grito, uma palavra, outra,
A voz se insinua, miúda e rouca.
No entanto, nas contradições do descaminho,
Faz-se a língua na própria língua
Faz-se o verso em todo o canto.
O poeta, imagem irreal, o instinto,
Busca a palavra, suga-lhe o sentido.
Regurgita o poema sob aplausos e espanto