Incrédulos
Quero chorar a minha dor, mas não consigo,
mitigada ela está por gargalhada,
é dor morta de ave empalhada,
que não crê nem no canto nem no que persigo.
E a descrença causada por contentamento
brota da solidão ou até do nada,
como se fosse terra enfim arada
para crescer raiz na alegria ou tormento.
Pois são as veias minhas plantadas no chão,
que sorvem dessa terra o alimento
do amor que deposito como grão de trigo
na palma entreaberta da tua mão,
incrédula da dor neste momento
que não creio nem no canto nem no que persigo.
Nota: aqui consegui pela primeira vez misturar versos decassílabos heróicos com os alexandrinos, como aprendi com Mário Quintana.