Incrédulos

Quero chorar a minha dor, mas não consigo,

mitigada ela está por gargalhada,

é dor morta de ave empalhada,

que não crê nem no canto nem no que persigo.

E a descrença causada por contentamento

brota da solidão ou até do nada,

como se fosse terra enfim arada

para crescer raiz na alegria ou tormento.

Pois são as veias minhas plantadas no chão,

que sorvem dessa terra o alimento

do amor que deposito como grão de trigo

na palma entreaberta da tua mão,

incrédula da dor neste momento

que não creio nem no canto nem no que persigo.

Nota: aqui consegui pela primeira vez misturar versos decassílabos heróicos com os alexandrinos, como aprendi com Mário Quintana.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 11/01/2009
Reeditado em 08/01/2010
Código do texto: T1379534
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