A FAMOSA QUEDA FICTÍCIA DE CAVALO DO APÓSTOLO SÃO PAULO

Hoje, eu caí do cavalo! Estava de boas estudando na sala quando escuto na televisão uma pregadora do congresso das "Mães que oram por seus filhos", que minha esposa está participando, falar que Saulo não caiu do cavalo. “Mas, como assim Paulo (Saulo) não caiu do cavalo?” Foi o que pensei quase que automaticamente.

Vou à Bíblia e encontro no livro de Atos dos Apóstolos capítulo 9, versículo 4 seguinte texto: “E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saul, Saul, por que você persegue?”” Essa primeira pesquisa foi na Bíblia Pastoral. Na Ave-Maria: “Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”” Na versão protestante João Ferreira de Almeida: “E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?” Para não ficar preso a apenas um versículo li o capítulo 9 e ainda li os capítulos 22 e 26 também de Atos e nada de cavalo, pelo menos relacionada à queda de Paulo.

Interessante como essa imagem de São Paulo caindo do cavalo está em minha mente há bastante tempo. Sou católico desde 2011, antes disso vivi um perído de questionamentos iniciado em 2007 e antes, desde 1994, fui evangélico, isso, dos 7 aos 20 anos fui protestante, e até então, nunca havia questionado essa queda do Apóstolo missionário. Eu até imaginava um cavalão branco, forte, com Paulo montado nele de forma icônica, cheio de orgulho por cumprir a missão de matar cristãos. Acho que parte disso foi se calcificando por causa dos desenhos do SBT que passava no sábado pela manhã. Sempre que contava ou imaginava a história de Paulo já imaginava ele caindo do seu cavalo. Então, era meio que natural tomar essa queda como verdadeira e certa, inclusive, jurava já ter lido algumas vezes esse versículo da queda. Sem contar que não foram poucas vezes em que ouvi pregadores e pastores citando a tal queda do cavalo.

Outro elemento que enraíza a queda em nossas mentes é o quadro “A Conversão de São Paulo, a caminho de Damasco” de Michelangelo, de 1600. Bem, tenho suspeitas de que meus irmãos "crentes", da minha infância, tenham conhecimento desse quadro ou saiba quem foi Michelangelo, mas o artista também achava que a queda foi do cavalo.

Mas então, a queda poderia ter sido de um cavalo? Claro que poderia ter sido. A pregadora da televisão se equivocou ao dizer que dificilmente usariam cavalos. Porém, no capítulo 22, versículos23 do livro dos Atos dos Apóstolos vemos: “O tribuno chamou dois dos centuriões e lhes disse: “Preparem para as nove horas da noite duzentos soldados, setenta cavaleiros e duzentos lanceiros, para irem até Cesareia. 24 Preparem também cavalos para que Paulo possa viajar e ser conduzido são e salvo ao governador Félix.” Aqui vemos o uso de cavalos como meio de transporte. Claro que eu poderia apresentar uma fonte externa para fundamentar o uso de cavalos, mas se tem o próprio texto bíblico, não precisei ir muito longe.

Aparentemente, se a queda não foi do cavalo, foi de que então? Bem, eles poderiam estar rezando, essa é uma das justificativas que encontrei pela grande rede e que parece fazer sentido. Próximo ao meio-dia os judeus rezam o Minchá, a oração introduzida por Isaque, o filho de Abraão lá do Antigo Testamento. Pode fazer sentido essa explicação. Eles desceram dos cavalos para rezar e aconteceu: o grande clarão, que todos os outros também viram, para não falarem que foi coisa da mente de Paulo. Daí para frente a história corre sem maior esforço de interpretação. A voz que saia do clarão, que também foi ouvida por todos, questionava as ações de Saulo, ele ficou cego e recebeu a ordem de ir encontrar um homem chamado Ananias, um dos discípulos de Jesus e o resto a gente já sabe.

Gostei de ficar sabendo mais sobre esse trecho das Bíblia e história do cristianismo mesmo sendo cristão a tanto tempo. Vou acompanhar com atenção esse assunto, e caso surja uma nova teoria, atualizarei o texto.