PARTICIPANDO DE UM CONCURSO DE TERROR COM O TEXTO A BICICLETA AMARELA

Recentemente participei de um concurso aqui no Recanto das Letras voltado para a literatura de terror e suspense. Talvez você já tenha se deparado com a sigla CLTS- Concurso Literário de Terror e Suspense- por aqui no Recanto. É um espaço aberto e livre para a exposição de contos com a temática preferida de King, Põe e Lovecraft. Caso tenha interesse em participar, sinta-se à vontade, é só ficar atentos às chamadas para postar os textos, que geralmente é a cada 4 meses, se não me engano.

 

Bem, neste 26º certame tive o prazer de ficar em 6º lugar, se bem que no 22º eu fiquei em 5º, mas dessa vez obtive mais notas 9 e 10 do que no anterior . Mesmo se tivesse ficado em 20º (20 textos participaram do certame) eu ficaria feliz da mesma forma, talvez o ego um pouco inflado caso entrasse no pódio, mas lá não cabe todos, né? Voltando ao que eu estava falando, eu participei com o texto A Bicicleta Amarela (https://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/8011408). Se não leu ainda, aproveite e dê essa força.

 

Gostaria de conversar sobre alguns pontos interessantes que observei nessas minhas duas participações.

 

Primeiro, eu gostaria de falar sobre o processo criativo aplicado ao meu texto "A Bicicleta Amarela". Quando eu estava para escrever, e isso já falei em outro texto recente aqui da minha escrivaninha (https://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/8002334), fiquei na dúvida sobre qual tema explorar. Acabei por escolher o tema espírito vingativo. Mas o tema sozinho não faz o texto. Onde vai ser ambientado? Quem serão os personagens? Em que tempo passará a história, passado, presente ou futuro?

 

Respondendo sobre a ambientação, certa vez li em algum lugar uma expressão que não lembro quem foi quem falou mas o conselho dado era "escreva sobre o teu vilarejo", Não sei se foi o Saramago ou algum russo quem disse. Pois bem, depois que vi esse conselho larguei de vez a ambientação em Seatle, Boston ou Sidney ou mesmo São Paulo. Comecei a escrever meus textos em João Pessoa, Campina Grande, e no caso de A Bicicleta Amarela, em Lastro, alto sertão do meu estado e vizinha a cidade onde moro atualmente. Escrevendo sobre Lastro tenho um pouco de facilidade de fazer uma melhor ambientação já que sei por experiência, que é uma cidade pequena, quase todo mundo é família, que existem os terrenos até hoje perto da pista, e outras informações que fui dando sobre o ambiente que qualquer pessoa entrando no google terra vai confirmar.

 

Tenho um outro texto aqui no Recanto onde eu conto uma viajem que fiz com a minha esposa à Paris. Essa história eu fiz logo após ler o livro do Balzac: Tereza Raquin. Mesmo se passando na França eu coloquei elementos regionais, um mendigo, justamente da cidade de Lastro, que orienta o enredo. O texto é O canoeiro de Paris (https://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/7734615). Nada contra quem ambienta seus texto em Xangai, mas desde que faça sentido para o leitor, tudo bem. Para mim, está fazendo sentido hoje, ambientar na terra onde meus tocam.

 

E os personagens? Durante a infância e adolescência eu tinha o costume de escrever histórias usando nomes americanos. Billy, Mike, John, Mary e por ai vai. Hoje, para mim, vale a mesma lógica da ambientação. Se estou escrevendo aqui na Paraíba onde a maioria das pessoas se chamam Zé, por que eu usaria um Edward? É Zé se transformando em vampiro e conquistando o coração de Maria. E para ser mais específico, é Zé da barraca e Maria de Bebé. Pronto. E, no mais das vezes, eu costumo usar familiares e amigos como meus personagens. Eu mesmo estou em várias histórias. Em A bicicleta Amarela eu uso tio Valcir, que na verdade, é um sobrinho meu, como personagem principal.

 

Em O diário (https://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/7726278), eu também sou um personagem, dessa vez o protagonista, e tenho outros texto entre contos e crônicas onde quem faz parte do meu círculo familiar e fraternal são os atores.

 

Sobre a ambientação temporal do conto é algo que eu gosto de observar nos textos que leio. Quase todos são narrados por pessoas em primeira pessoa e contam uma história passada. Os narradores são personagem em primeiro plano, onisciente ou não, contando algo que já aconteceu. Estou lendo bastante contos procurando ver se encontro alguém fazendo diferente. Sei lá, narrando o futuro, quem sabe. Seria um adivinho? Um Tirésias moderno? Seria interessante. Agora, uma coisa importante, se formos escrever sobre um tempo específico, devemos sempre nos lembrar durante toda a escrita que tempo é esse! Em "A Bicicleta Amarela", eu escrevo que um menino ganha de presente uma bicicleta na década de 40. Um leitor comentou no meu texto que uma bicicleta nessa época seria bastante cara, e que se eu colocasse o personagem como filho de uma pessoa rica a história ficaria mais fidedigna. E ele teve toda razão em seu comentário. Na revisão coloquei que a bicicleta já tinha tido outro dono, um filhos do engenheiro responsável por construir o açude São Gonçalo,e o pai do Antonio a comprou dele, ou seja, não era nova em folha, sendo assim mais acessível a um trabalhador cassaco ou criador de bichos. Acredito que resolvi o problema.

 

E qual foi a inspiração para criar o texto? Tendo escolhido o tema Espíritos Vingativos, me pus a pensar na maneira de explorá-lo mesmo depois de um bitrem carregados de autores já o terem feito. Mas até onde eu saiba, ninguém havia feito isso usando como cenário a cidade de Lastro, assim, eu estaria contado uma história com um tema batido de forma inédita. Durante o concurso alguns comentaristas disseram que sentiram uma pontinha de King ou de Lovecraft. Bem do último eu li até agora apenas um texto, senão me engano, tem o nome de Caverna, onde conta a história de um explorador de cavernas que se perde de seu guia e ele se depara com uma criatura e a acaba mantando a pedrada. E de King, só li até agora Carrie e mais nada. Talvez por eu ter usado uma cidade do interior e pequena, possa ter dado essa ideia. Mas, não o quis imitar, caso o tivesse feito eu assumiria, afinal o homem é uma lenda e não é feio se inspirar nos grandes.

 

Escolhido o cenário, eu precisava criar um clima de suspense. E o que cria mais suspense do que uma morte não desvendada? Temos um corpo! O Antonio morreu! E o policial responsável pelo caso não tem pista alguma. Para piorar, os pais se suicidam. Agora são três corpos numa cidade de 2800 habitantes. Não sei como o IBGE faz os cálculos, mas creio que essa taxa faria Lastro se tornar uma das cidades mais perigosas do sertão. A forma que eu encontrei para manter o suspense no ar foi repetir as mortes de tempos em tempos. Isso faria o leitor pensar: "O que está acontecendo nesse diabo de cidade?", pelo menos essa era a minha intenção. Bem, pelo menos é o que pensa o novo delegado, o Tio Valcir da história. Ele desvenda tudo, e descobre que o caso não é de crime comum, mas algo sobrenatural.

 

A ideia geral do texto eu tive num lampejo: Um menino morto e a sua bicicleta desaparecida. Depois coloquei o cenário e fui criando os personagem: um estudante de mestrado escrevendo sobre a violência no sertão, um professor e delegado aposentado, o tio Valcir; Mariinha, irmã do menino assassinado e filha do casal de enforcado. A narração é feita e partes pelo sobrinho, mas é possível perceber a voz do tio e da própria Mariinha. Como eu já disse, a forma como os autores fazem as suas narrações me intriga. Por exemplo, Põe faz várias narrações em primeira pessoa. Apresenta ao leitor o olhar de quem está vivendo o momento contado. Eu gosto dessa forma. Afinal, eu gosto de ouvir a história contada por quem a viveu e assim conta as minhas.

 

Por hora é isso, talvez eu volte para fazer uma parte dois ou alimentar este texto com outros parágrafos.

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 09/04/2024
Reeditado em 03/07/2024
Código do texto: T8038051
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