A BARRAGEM- IGNÊZ MARIZ- ROMANCE REGIONALISTA DOS ANOS 30
Amigos e amigas leitores, sejam todos bem-vindo à minha escrivaninha. Sobre o que vou falar hoje? Confesso que faltam-me palavras, mas falarei dessa magnífica obra que é A Barragem. Uma obra da autora paraibana e sousense, Ignês Mariz. Serei redundante propositalmente: é uma obra magnifica!
Não existem muitas informações na grande rede sobre quem foi a autora Ignêz Mariz. Pelo sobrenome, eu interpreto que ela tenha pertencido a uma das famílias tradicionais aqui no sertão paraibano, principalmente na cidade de Sousa, a família Mariz. Dessa família despontaram alguns políticos de destaque em nosso estado como o ex-governador Antonio Mariz e outro antes dele que, se não me engano, foi interventor no estado.
George, e sobre o que trata o livro? Ele é um romance histórico. Como assim? Na medida que ele conta uma estória também nos situa no tempo histórico em que ele acontece. No caso, o enredo se passa na década de trinta do século passado e tem como um dos principais personagem o nosso açude de São Gonçalo.
É linda a forma como Ignêz Mariz pinta o retrato do sertão. Um lugar primitivo que em nada se parece com a "metrópole" atual. O texto é encerrado em 1934. Para se ter uma ideia, meu pai nasceu em 1933 e faleceu em 2002, quando eu tinha 15 anos. Lendo o romance, eu pude experimentar um pouco de como foi a infância do meu velho devido o grau de realismo que Ignêz nos apresenta. A vida e o dia a dia dos personagens lutando e sobrevivendo às amarguras da seca, mas que encontra a salvação na construção do açude.
Não sei em que escola literária poderia incluir a obra A Barragem. Talvez um pé no naturalismo e um calcanhar no romantismo, mas é um calcanhar já se levantando para dar o próximo passo e entrando de vez no romance regionalista, assim como foi com José Américo de Almeida com a Bagaceira, de 1928, e José Lins do Rego, com Menino de Engenho, publicado em 1932.
O livro de Ignêz Mariz é um retrato geográfico e social da Paraíba dos anos 30. Como era a região do distrito de São Gonçalo antes, durantes e após a construção da barragem. Hoje, quando eu passo pelo grande açude não imagino que no auge da sua construção tinham 6.000 trabalhadores revirando pedra e cavando buraco para que o açude nascesse. Máquinas e caminhões, que até então eram novidades para o sertanejo.
O livro nos apresenta recortes das relações familiares e fraternais; a presença do coronel, que ia pessoalmente tirar satisfação sobre algum malfeito contra um dos seus protegidos; a euforia do povo ao ver o presidente Getúlio Vargas vindo inspecionar a obra. As festas populares, as moças namoradeiras e as da vida, e os olhares das "línguas de prata", ou seja aquelas que falavam de Deus e do mundo. É um livro vivo e pulsa como um coração. Devia ser leitura obrigatória. Parafraseio um dos comentários da orelha do livro: se a autora Ignês Mariz escreve esse inglês, o seu livro teria vendido aos milhões. Infelizmente é de casa...