Uma conversinha sobre o conto: O homem e a serpente de Ambrose Bierce,1890
Amigos leitores, como vocês estão?! Vamos falar um pouco de terror ou suspense ou mesmo terror ou suspense psicológico. Isso. No conto que falarei hoje não existe um monstro ou assassino ou fantasma puxando os pés de ninguém. Se eu disser que tudo acontece dentro da mente do personagem eu estragaria o final, mas já estragando... Estou falando do conto de Ambrose Bierce: O homem e a serpente de 1890.
Bierce nasceu em 1842 e suspeita-se que ainda esteja vivo, fazendo companhia a D. Sebastião de Portugal. Está bem, ele pode já ter morrido, mas o corpo nunca foi encontrado, assim como o do português. A sua biografia traz duas características que chamou-me a atenção: satírico e cínico. Não sei se nessa época era uma boa escolha de estilo, hoje com toda certeza não seria, queimariam seus textos, deletariam seu canal no Youtube e o prenderiam. Quem quiser ser cínico e satírico que ouse experimentar.
Pois bem, deixa eu me recompor. Eu não conhecia esse escritor. O primeiro contato com um texto seu foi por meio do conto, não tão longo, como eu já falei O homem e a serpente. Um conto direto e simples. Nada de lençóis, e portas batendo. Conta a história de um homem que vai passar um tempo na casa de um grande cientistas, que por acaso, é também criador de cobras. Pronto.
O texto começa com Harker Brayton ( o hóspede do cientista) lendo uma frase e a pondo em cheque:
"É informação segura, e por tantos atestada, que atualmente as pessoas prudentes e doutas não a desmentem, que a serpente tem nos olhos uma propriedade magnética, de tal ordem que todo aquele que lhe cai no campo da visão é atraído, a despeito de sua vontade, e perece sem remissão pela mordedura do animal."
Claro, o visitante, um homem dado ao pensamento, não acreditaria numa superstição dessa. Até que, veja bem, estamos aproximadamente na linha 10... O visitante está sentando fazendo sua leitura quando se depara com dois olhos negros o seduzindo... E o seduz. O anfitrião, Dr. Druring, ao procurar a visita se depara com o homem morto caído ao chão. Mas, o que aconteceu? Não existe resposta lógica, a não ser um mal súbito. O doutor ao passar o olho pelo quarto se depara com uma cobra de madeira que alguém colocou ali. Para quem ler o conto entenderá que foi a mente do defunto que o enganou. Foi-lhe dada uma sugestão e ele a respondeu como se fosse real.
Agora que eu pensei nisso, esse fato poderia muito bem ser uma experiência do doutor cientista-criador de cobras. Ele preparou o ambiente , colocando ao dispor de uma pessoa cética uma informação e testou a hipótese de se pessoas céticas estão sujeitas à sugestão. Bem, se foi isso o que ele quis testar, conseguiu.
O conto vale a pena a leitura. Ainda mais por parte daqueles que estão se aventurando nesse universo que transcende o natural e a razão.