Começando com uma morte e um mistério

 

Helena é o terceiro romance de Machado de Assis, escrito em 1876. Aconselho que você o leia antes de ir buscar subsídios ou críticas, e isso eu recomendo a qualquer tipo de leitura. Por quê? Para  você não correr o risco de iniciar uma leitura enviesada com os argumentos de terceiros, inclusive os meus. Falo isso porquê ouvi em uma palestra que o livro Helena era feito com personagens planos, fracos psicologicamente. Caramba! Eu queria chegar a essa conclusão e não ter ouvido de alguém. Já chego cismado para iniciar essa leitura. Mas, vamos ver se tal opinião se confirma ou não.

 

Para mim é inevitável eu dividir o texto. O capítulo 1, na minha versão, composta por 5 páginas de livro, eu o dividi em dois momentos. No primeiro, conta-se a morte do Conselheiro, seu enterro e a busca pelo testamento. No segundo, temos o foco da narração voltado para o doutor Camargo e a sua família. Abordarei a primeira parte, deixando a segunda para outro texto. Faço assim porquê não só fã de textos  longos, ficam cansativos, na minha opinião.

 

Como a história começa? O ponta pé inicial é uma morte! Fazendo uma leitura comparada com outros livros do Machado, podemos ver que em Dom Casmurro, por ser um livro de memórias, todos, exceto o narrador/personagem, já partiram para a terra dos pés juntos, ou melhor, estudar a geologia dos campos santos.

 

Em A mão e a luva, não há morte no primeiro capítulo, mas há o desejo de morrer.

"-Mas que pretendes fazer agira?

-Morrer.

-Morrer? Que ideia! Deixa-te disso, Estevão. Não se morre por tão pouco."

 

Já em Ressurreição, apesar de uma das personagens principais ser viúva, e de Raquel quase morrer e ressurgir como uma Fênix; o zumbi é Félix, que mesmo vivo, está morto para as coisas do coração.

 

Em Helena, temos literalmente um personagem morto. Podia citar Brás Cubas, mas faz um tempo que o li e não me recordo de quase nada.

 

E quem morreu? O conselheiro Vale; homem de 54 anos, muito benquisto pela sociedade. Pai de Estácio, um jovem de 27 anos formado em matemática que em vão, o conselheiro tentava emplacar na política, mas como podemos ver adiante no texto, ele não tinha vocação: "aborrecia a política". O morto era irmão de dona Úrsula, uma senhora solteira que morava com eles, "cuja casa dirigia desde o falecimento da cunhada". É uma família pequena, envolvia apenas três pessoas, agora duas. Depois três novamente.

 

O conselheiro pertencia a uma família tradicional; filho de um juiz e por parte de mãe, integrava uma distinta casa Paulista. De que morreu? "Apoplexia fulminante depois de cochilar a sesta". Não adiantou chamar o dr. Camargo e nem o padre Melchior para a extrema unção. Os amigos do carteado que procurassem outro parceiro: "a morte foi instantânea. "

 

E o enterro? Foi extremamente concorrido. Todos queriam se despedir do Conselheiro. Do pobre ao rico!

 

É comum aos que morrem de forma inesperada deixar um ou outro assunto pendente; no caso do Conselheiro Vale não foi diferente. Na verdade, um segredo, confiado ou informado apenas ao doutor Camargo e que vem à tona quando o médico pergunta  a Estácio se seu pai deixara algum testamento. Mas não é uma simples pergunta, um perguntar só por perguntar. É mais um questionamento curioso, envolto em mistério.

 

Com a ajuda do médico, Estácio inicia a busca pelo dito testamento. Acabam o encontrando, e o amigo da família lança a subjetividade no ar: "Sabem o que está aqui dentro? "Talvez uma lacuna ou um grande excesso". E nem adiantou perguntar o conteúdo misterioso do testamento, ele apenas pedira  que fosse aberto no dia seguinte. Talvez na estratégia de fazer a poeira baixar; mas, quem fica em paz com a dúvida dessas pairando sobre a cabeça?

 

O mais surpreendente, é que se pactua tacitamente a abertura  do testamento para o dia seguinte. Eita povo para manter a classe. Se fosse comigo... Era aberto ali mesmo, na hora. Não importasse o conteúdo; quer fosse uma lacuna, quer fosse um excesso.

 

 

 

 

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 06/02/2023
Reeditado em 11/02/2023
Código do texto: T7712974
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