LIMA BARRETO E O 15 DE NOVEMBRO

Amigo leitor, amiga leitora,

 

Estava aqui no meu celular vendo alguns texto que não li no ano findo e me deparo com uma crônica de Lima Barreto. Se não sabias, o pai de Policarpo Quaresma também era cronista. O título do texto é "15 de novembro", e o que aconteceu nesta data? Isso mesmo. A proclamação da nossa República.

 

A crônica é de 1921, ou seja apenas 32 anos após a queda do Império. Ele mesmo ainda viveu parte da infância sob o domínio da coroa, nasceu em 1881. Só a título de comparação, Machado nasceu em 1839.

 

"Mas, George, o que ele fala nesta crônica que merece a tua atenção?" O que me chama atenção no texto é a sua atualidade. Quase uma profecia sobre o que seria o Brasil do futuro, no ano de 2023, na visão de alguém em 1921.

 

Ele começa o texto dizendo que não foi ver as comemorações do dia 15. A explicação que encontro navegando na rede é que seu pai era um monarquista. Ele também um simpatizante, o que pode ser percebido mais adiante no próprio texto, quando ele lamenta a morte da princesa Isabel.

 

Ficou em casa. Nem no jornal procurou se informar do evento comemorativo. Mas eis o que ele diz:

"Veio, entretanto, vontade de lembrar-me o estado atual do Brasil." Está frase para mim é como uma chuva de canivete sobre nós. E quando digo nós, o primeiro da lista sou eu  e o segundo é você, amigo(a). E nem adianta abrir o guarda-chuva isentão: " Eu mesmo não!" Ou o que diziamos quando crianças: " Nós, vírgula." Em uma clara manifestação de tiragem de corpo quando o assunto não nos era confortável.

 

Claro que ver os fogos da vitória do meu partido dilata as minhas pupilas, o barulho quase estoura meus ouvidos e a euforia quase me deixa em coma. Estou plenamente capaz de negar a realidade, ignorar os números e mentir sobre aquilo que deu certo mas que não foi feito por meu partido ou grupo político. O "estado atual do Brasil para estes é de carnaval".

 

E, qual era a situação do Brasil na época de Barreto? Era de hipocrisia política. Sendo assim, em nada era diferente da nossa realidade cem anos depois. Se Barreto ressucitasse agora, por obra divina, a certeza que tenho é que iria desejar morrer de novo. E, se ele dissesse duas ou três palavras, ai que morreria mais rápido, isso se não fosse preso antes de morrer pela polícia política que já já estará nas ruas. Que eu esteja mentindo. Que eu esteja mentindo. Que eu esteja mentindo. É que eu vi uma estrela cadente passando e fiz meu pedido. Mas, voltemos à Lima Barreto.

 

Barreto diz ouvir umas palavras do prefeito Ciro de Azevedo que estava consternado com a miséria na República. Miséria herdada da Monarquia. Em seguida Barreto nos conta que o prefeito queria 5 mil contos para restauração da orla. E o escritor se lembra das favelas! E diz: " Vi em tudo isso a República; e não sei por quê, mas vi"

 

Lima Barreto então sai pelas ruas e pelas bancas e ler os jornais: "Não se discutia uma questão econômica ou política..." Diz que voltou melancolicamente para casa.

 

Meu amigo Lima Barreto. essa melancolia as vezes também me acomete. 

 

 

 

 

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 11/01/2023
Código do texto: T7691984
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