O PARASITA DE MESA
Estou lendo uma crônica de Machado de Assis com o mesmo título que trago no meu texto. Não é plágio coisa nenhuma. Talvez. Não sei. Creio que não o seja. Mas bem. Prossigamos
Na crônica da década de 1850, não me recordo agora de cabeça se seja da primeira ou da segunda metade, ( espera, fui conferir. É de 1859. MACHADO TINHA 20 ANOS!!!) mas ao lê-la, me veio na mente dois personagens de livros de sua autoria e um da vida real. O Viana, de Ressurreição 1876 (escreveu quando tinha 37 anos), o Sr. José Dias, o agregado, de Dom Casmurro de 1899, 23 anos depois do primeiro, (saindo do universo machadiano, temos o senhor Botelho do romance O Cortiço de Aluísio de Azevedo). Nem sei se os personagens do Bruxo são frutos dessa crônica, ou se são ecos do que havia na sociedade carioca do séculoXIX, mas, ele os descreve muito bem: os parasitas. E o terceiro, aquele da vida real, sou eu mesmo.
Não vamos entender o parasita como alguém de todo ruim, José Dias tem lá a sua serventia ( eu provavelmente também tenho, só que ainda está para ser revelado, mas sou jovem ainda, apenas 35 anos). Ajuda o tio Cosme carregando os processos e organizando-os, alem de lhe vestir e lhe despir a toga; também faz companhia as senhoras da casa. Dá conselhos pontuais sobre assuntos pontuais da vida familiar... Não é um inútil ( ou talvez seja). Mas, se perguntarmos ao Pádua, que é pai de Capitolina, ele nos dirá o seguinte: " Eu não sou como outros, certos parasitas, vindo de fora para desunião das famílias, aduladores baixos, nao; eu sou de outra espécie; não vivo papando os jantares nem morando em casa alheia..." (DOM Casmurro, capítulo LII).
O Viana, é um boa prosa, como diria tio Cosme. Tem o dom de farejar uma comidinha grátis e apreciador de bons vinhos, de adegas alheias, claro. Mas ele tem um trunfo: uma irmão bonita. Mas, voltemos ao parasita descrito na crônica machadiana.
Machado elenca um rol de parasitas. O primeiro é o parasita de mesa. E aqui me classifico, seja eu sozinho, eu enquanto casal com Aline ou eu enquanto casal juntamente com a nossa corda de caranguejo, também conhecida por prole.
Na definição de Machado, o parasita de mesa, "O mais vulgar e o mais conhecido", é o tipo que não rejeita uma boca livre, "ele vive em toda parte em que há ambiente de porco assado" ( nos enquadramos perfeitamente). As suas visitas são premeditadamente próximo ao horário das refeições ( não há melhor horário). No nosso costume moderno, algo próximo ao meio dia e seis da tarde.
Já confessei ser um parasita de mesa. Conta casa de mãe? Se contar parasitei por lá um longo tempo. Tive que ser catado feito carrapato do mato por minha esposa.
Depois de casado parasitamos aos domingos a casa de Vó Inês. Chegávamos com : sorriso largo, chapéu na mão, o vácuo no estômago". Comida grátis em troca eu lavava a louça. Nunca foram tão limpasas panelas. De bucho cheio, eu caprichava.
Parasitamos a casa de nossos compadres André e Patrícia várias vezes, vários dias por semana. Chegávamos para a visita providencialmente na hora do jantar. Era uma beleza. Assistíamos filmes, jogávamos, e só íamos embora depois do lanchinho da noite. Se tínhamos vergonha? Sim, mas estávamos lá novamente em dois dias.
Outra casa que gostamos de parasitar a mesa em família é a casa da Dinda dos pequenos. Escolhemos a mesma Dinda para todos. Talvez um erro. Se tivéssemos uma para cada multiplicariamos a quantidade de mesas disponíveis para uma boquinha. Por que não pensamos nisso?
Sim, tem a sopa lá de Cláudia, tem a casa da Dindona, que é a mãe da Dinda. E um almoço sempre garantido na casa dos nossos amigos Manoel e Ângela.
E eu já ia criticar o comportamento de Viana e a José Dias. Seria o sujo falando do mal lavado, ou o comilão falando do esfomeado.