Conversando com a crônica "Os fanqueiros literários" de Machado de 1859
"Mas tudo isso é causado pela falta sensível de uma inquisição literária! Que
espetáculo não seria ver evaporar-se em uma fogueira inquisitorial tanto
ópio encadernado que por aí anda enchendo as livrarias!"
O trecho que trago é de uma crônica de Machado de Assis publicada em 1859, intitulada "Os fanqueiros literários". De cara, fanqueiro não tem nada a ver com o ritmo de nádegas dançantes. A expressão se refere ao comerciante que vendia tecidos. Pelo texto dá a entender que haviam fanqueiros que vendiam produtos de má qualidade e aqui, fazendo uma analogia, ele batiza os maus escritores, segundo os seus critérios, de fanqueiros literários.
E como se reconhece um fanqueiro literário? É simples, segundo elenca Machado. Andam bem vestidos, falando verborragicamente para todos os lados chamando a atenção, anda no meio de gente importante cumprimentando a todos com sua coluna super flexível, não perde um coffee-break e baba ( como falamos aqui na velha Paraíba, chalera) as autoridades. Sim, sempre de posse de seus textos meia-boca.
E onde encontrá-los? Aqui, vou ter que dizer umas verdades ao Machado. Infelizmente a Academia que você ajudou a criar e que fostes o primeiro presidente é um local repleto desse tipo de fanqueiros. E não fica restrito à grande Academia, sai se espalhando pelas esquinas. Então, George, você é contra as academias de letras? Absolutamente. Que se criem mais e se produza e fomente cultura neste país que tanto anda necessitado desta graça.
Mas, que existem muitos fanqueiros literários se passando por escritor, com suas roupas e pompas de imortais, isto tem. Da até vontade de fazer o que Machado disse: Juntar suas "obras " e meter fogo nelas, só que na época do Bruxo eles ainda não tinha essa pegada ambiental que temos hoje. Talvez um triturador de papel dos bons já resolveria. Ou só deixar lá mesmo, na prateleira. O brasileiro ler em média 3 livros por ano a chance de alguém se deparar com uma das ditas peças é mínima, mas na certeza de que, se algum desavisado as ler, perderemos para sempre um leitor.