O Ensaio sobre a cegueira me incomodou

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Amigo leitor, não sei você, mas estou com insônia. São exatos 15 minutos do dia 15 de dezembro e Morfeu não passou por aqui com o pozinho sonífero para me pregar as petanas. Aí, eu pensei em um livro que tenho, um não, dois, mas que li apenas um enquanto o outro me encara com olhar de reprovação por mal lhe ter folheado as páginas.

 

São dois clássicos. Para mim se são Saramago são clássicos. E outra, não sou daqueles que falam mal dos que nos antecedem no estudo da geologia dos campos santos ( Aprendi essa citação em Dom Casmurro e já é a segunda vez que meto bonitona em um texto).

 

O que não li ainda é o Ensaio sobre a Lucidez. Para ser justo comigo, já comecei a lê-lo umas três ou quatro vezes e sempre paro na mesma parte ( como essas nossas eleições de 2022 poderiam ter seguido o modelo da história de Saramago, seria hilário!!!). E o segundo é o Ensaio sobre a Cegueira.

 

Esse Ensaio sobre a cegueira é famoso. Virou filme, têm teses de pós doutorado em psicanálise sobre ele e rendeu inúmeros prêmios ao escritor. Não vou narrá-lo aqui, até porque a minha intenção não é contar para você sobre o livro, o seu enredo. Mas, sim, sobre uma "cena" que me intrigou, sendo a causa dessa minha insônia.

 

Pense aqui comigo. Todo mundo de forma repentina e sem explicação fica cego.  As pessoas estavam na rua e não veem mais nada. Ricos, pobre, homens, mulheres, geral. Então, como forma de se apoiar, as pessoas organizam uma comunidade de cegos. E EU DISSE QUE NÃO IA NARRAR O LIVRO. DESCULPE-ME.

 

Mas, pega aqui na minha mão e vamos pensar juntos. Todo mundo está cego e no mesmo barco furado ( não que ser cego seja um barco furado). Quem está na vantagem nesse caso? Será que tem alguém que vai se sobressair sobre os demais cegos? Segura minha mão imaginária. Sabe a resposta? SIM!!! Os cegos que já eram cegos anteriormente!!!

 

Rapaz. Em um mundo de cego quem tem olho é rei, mas se todos são igualmente cegos, quem é o rei é o cego de nascença ou aquele que ja vive com a cegueira a bastante tempo, que já se adaptou a sua deficiência. E pasmem. No livro tem um cego assim. Um puro e grande canalha!!! Um cego que se auto proclamou líder dos demais cegos.

 

Foi ai que eu pensei, amigo leitor, um cego desses comparado aos novos convertidos é um cego profissional ( refiro-me a forma dele lidar com o mundo e as dificuldades que um cego enfrenta no dia a dia). Ele reconhece de pronto essa vantagem como se o divino agora o tivesse escolhido, afinal a sua outrora fraqueza é um ponto forte.

 

Enquanto os outros andam metendo a testa na parede, ele é o imperador e dita a forma como as coisas são. E todos, o obedecem por bem ou por mal, ou conveniência. Pagam-lhe propina. São humilhados. Mulheres lhe fazem favores sexuais voluntária ou na marra, verdadeira violências. Todos estão cegos, mas o cego "profissional" é quem vai na frente sendo servido pelos cegos neófito e prometendo proteção aqueles que o seguirem e aplicando terror, fome e morte aqueles que lhe enfrentam.

 

Um livro que imcomoda, mas vale a pena ler.

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 15/12/2022
Reeditado em 29/12/2023
Código do texto: T7672365
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