Drumond, Josina Nunes. Cibersolidão. 1ª edição. – São Paulo: Opção Editora, 2017.

A leitura de livros de escritoras cronistas capixabas ou aqui radicadas, como Josina Nunes Drumond, mineira de Patos, autora do livro Cibersolidão, ora em tela, entre outras como Ana Paula Nahas, escriba do livro Quase um segundo, ou a Bernadette Lyra do livro Água salobra, ou ainda a Ester Abreu do livro Epifanias como se fossem crônicas traz algo em comum: certo estoicismo, porém um estoicismo que se nega a ser apenas flanêur, observador, porque se pode existir um estoicismo proativo, esse é uma característica das cronistas capixabas, nascidas no Espírito Santo ou não, pela razão de que todas lidas e resenhadas são volitantes no uso da palavra, mas não apenas no sentido de lançar olhares sobre as paisagens e os fatos, porque abrem entradas e saídas, pensam o existir no tempo. Atuam ou se preservam, sendo atoras das próprias vidas.

E o tempo no livro Cibersolidão, de Jô Drumond, é dividido em antes e depois, tomado como corte epistemológico a revolução cibernética ou digital, com a alusão da autora à solidão, partida da premissa que mesmo meio a uma multidão o ser humano pode se sentir só, ou ainda a partir de outra verdade, então silogística, de que mesmo podendo alguém conversar com outra pessoa via internet ou smartfhone em qualquer lugar do planeta se pode estar só. Sendo o estar só para as cronistas aludidas uma possibilidade de liberdade ou de fruição criativa.

Jô Drumond, em seu livro Cibersolidão, tenta levar o antes ao depois e este fio de contato se dá desde a primeira crônica até à última, na primeira crônica com título igual ao do livro, reclama da ausência de privacidade, mesmo pública, porque qualquer pessoa pode ser fotografada ou filmada em situações desejáveis ou não. Na última crônica: Meus últimos desejos (Manifesto de futura uma falecida) escreve uma pequena carta testamento, na qual, como um gesto afetivo, procura levar aos que ainda vêm a maneira como a vida foi vivida em sua lúcida e clara amorosidade referente ao modo de viver como efetivamente viveu.

O miolo do livro não se enovela, a narrativa é linear e contínua, como se houvesse postes em que os fios se ligam em direção ao futuro. Devir aceito compassivamente, como a dizer olha como foram as coisas, os problemas educacionais desde os tenros estudos, os locais visitados nas Minas Gerais, os problemas políticos nacionais e os fatos que os desenovelaram como a morte de Juscelino Kubistchek narrada pelos olhos do povo, revelando fatos inéditos sobre a tragédia, testemunhalmente, quase como se tivesse segurado uma das alças do caixão do criador de Brasília.

Antes do testamento da última crônica, nos faz passear por Cordisburgo e adjacências para viver os sabores roseanos daquele lugar de veneração a Guimarães Rosa, passo a passo a pé ou montados em cavalos. E é claro que tamanha deferência tem de ser prestada por uma intelectual mineira capixaba (mineiraxaba?) dona de boa verve.

Não sei se encontrarei no passado, presente ou futuro uma cronista visceral mesmo que apenas amante da obra da também cronista Clarice Lispector, que escreva com sinceridade e ou competência. Talvez por razões antropológicas e culturais a visceralidade aqui nunca viceje. Não sei se também por causa da bandeira espírito-santense cujo lema é Trabalha e Confia, isso seja possível. Trabalha e Confia é um belo mote para o estoicismo proativo.

A privacidade para os capixabas é inviolável, tenho certeza que os núcleos familiares são os dos mais fechados do Brasil, violentamente se repele “intimidades indesejáveis”. O que se diz e o que se fala aqui (ao menos entre as cronistas lidas) sempre é ou será o que está no ar, seja este ar a atmosfera política ou geopolítica, histórica circunstancial pessoal ou memorialística. Salvo melhor juízo, talvez essa seja uma característica da literatura capixaba como um todo.

Auto defino-me carioxabaiano, os cariocas amam as catarses, os baianos (vivi em Salvador durante sete anos) transformam tudo em Axé. O xaba do carioxabaiano me faz suportar melhor a Cibersolisão, sou grato. O livro Cibersolidão de Jô Drumond me faz chegar ao fim desse domingo (21 de agosto de 2021) homenageando a minha inviolabilidade.

Boa semana e bom trabalho para todos que ainda precisam labutar.

Alguém tem que prover!

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Fábio Daflon

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 22/08/2021
Código do texto: T7326385
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