Platão e o Ideal Socrático
Platão, grande proclamador dos ideais socráticos, se vê desamparado, diante da morte de seu mestre. Sócrates, tido como o homem mais justo, condenado e, por opção, sentenciado à morte, faz com que Platão esteja diante de um despertar, já que tal tragédia marca uma militância platônica em busca de honrar a memória de sua máxima referência. Platão busca construir uma cidade mais justa, ao reparar as carências que passou a enxergar na idealizada pólis. A busca pelo bem, marca o pensamento platônico, onde o cidadão deveria se formar para conseguir se desfazer das amarras de um mundo ilusório, composto de ausência de justiça, ciência e virtude, como pode comprovar no episódio da condenação de Sócrates. Surge a necessidade de uma sociedade bem formada, e que para isso, precisaria de bons professores, cabendo aos filósofos o papel de mestres, com intuito de retirar os discípulos dessas trevas, como aponta a "Alegoria da Caverna".
Existe a necessidade de fazer surgir esse Eros, um desejo de aprender a partir da sedução do mestre, também erotizado pelo desejo de ensinar. Exemplificamos uma ascensão em que o mestre-filósofo inspira e faz com que tais hábitos, por uma progressão, passem a fazer parte dessa filosofia. O amore à sabedoria é mais do que evidente. É preciso que a razão guie os passos para que o homem não se corrompa. Na famosa "Alegoria da Caverna", percebemos em síntese, essa idealização de Platão, onde homens acorrentados e de costas para o exterior de seu cativeiro, se deixam levar por sombras que os mantêm na ignorância, ocorrendo a necessidade de um ser dotado de razão que os vá convencer a deixar os grilhões e enfrentar, primeiramente, a luz solar, que cega-lhes os olhos, habituados com, no máximo, a luminosidade da fogueira que lhes transmitia falsas impressões. O impacto dessa verdade que abala todos aqueles falsos preceitos e o mestre que busca fazer com que seu discípulo liberto, também procure libertar ou resgatar outros ignorantes, através de seu desenvolvimento.
Sócrates também buscava essa verdade, mas Platão se empenha em justamente desnudar, fazer com que as falsas impressões não apenas sejam superadas, mas que exista uma consciência acerca delas, para evitar esse aprisionamento na ignorância. Temos como referência o filme "The Matrix", das irmãs Wachowski, onde mais uma vez, a teoria platônica se faz presente, entre o impacto de uma realidade e uma falsa realidade, o desespero do personagem Neo diante da revelação e a busca para libertar outras mentes. O mundo das ideias eleva a alma e a liberta daqueles apetites que a consomem. Além do pensamento, existia uma preocupação com o corpo, dieta para o corpo e para a alma, na busca por uma pessoa em estado elevado, já que estaria acima, embora seja um desenvolvimento horizontal, cima e baixo fazem parte de uma tensão entre o que sou e o que pretendo ser, num exercício constante que proporcionará a justa medida.
Uma formação que tinha como prioridade a ciência, mas que buscava preparar o cidadão em todas as esferas, inclusive como guerreiro. O ideal de formação da República, ao contrário de premissas filosóficas que buscavam ampliar liberdades, buscava restringi-las, já que o bem público se torna a grande meta e a disciplina o caminho para chegar até ele. Tal pensamento se espalha pela cultura ocidental, criando inclusive, perspectivas religiosas relacionadas a essa metafísica. Uma mudança de perspectiva drástica faz com que o desejo de aprender seja reprimido por esse impacto devastador, que corrói bases tidas como sólidas, fazendo com que as relações se tornem conturbadas. Estar diante da verdade não facilitaria as coisas, pelo contrário, aumentaria o grau de responsabilidade, ou poderíamos até dizer que a partir dessa verdade que o homem se torna responsável de fato. sair da ignorância é estar diante de enormes desafios, não existindo mais a possibilidade de retrocessos, já que a consciência irá cobrar o comportamento, como o "morcego" do poema de Augusto dos Anjos. Despertar esse Eros, ou melhor, constantemente reanimá-lo, diante das adversidades que o matam cotidianamente, é o grande desafio, em uma produção constante desse desejo de aprender. Mais uma vez, a figura do parto, desafio de enfrentar a vida, que se apresenta sem modéstia e com apetite voraz.
PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José. (orgs). Introdução à Filosofia da Educação. Temas Contemporâneos e História. São Paulo: AVERCAMP, 2007.