Sócrates e a Educação

Considerando a Pedagogia/Paidéia, em que busca-se uma educação que contemple uma formação de vida, temos a força da retórica, servindo de base para os debates que se desenvolviam, onde a palavra passa a ser um elemento transformador, fazendo com que exista uma necessidade de se expressar a partir dela, uma busca pela perfeição do discurso, com uma tradição sofista empenhada em vencer os debates e se apropriar do domínio político.

O bem falar, ainda que estivesse próximo a uma democracia, se fazia necessário nas argumentações. Os sofistas estavam dispostos a ensinar, não apenas atendendo às antigas tradições aristocráticas, mas visando ampliar sua influência, já que a prerrogativa consanguínea não era mas o critério essencial, agora era possível que outros também tivessem acesso ao conhecimento. Nas ágoras, as batalhas se tornavam ferrenhas e os sofistas estavam diante de um oponente à altura. Sócrates rompe com a tradição sofista por ensinar sem cobrança, acreditando na busca de uma verdade, utilizando um método que extraía da própria pessoa o conhecimento que, a priori, ignorava. Assim como a mãe de Sócrates era parteira, o filósofo ficou conhecido por parir ideias, numa forma de anamnese, em que através do próprio interlocutor, consiga transpor os limites da ignorância e transbordar o conhecimento.

Ambos, Sócrates e os sofistas, buscavam um debate que promovia o confronto de ideias. A preocupação seria a de preparar o sujeito para a vida, o que tornava de suma importância, a reflexão filosófica, cabendo aos cidadãos gregos esse bem próprio, em comunhão com a pólis. O cuidado de si, está longe de um individualismo, sendo voltado a uma integração, onde compreender a si, nesse contexto, equivaleria à busca pela compreensão do outro, cuidado de si e cuidado dos outros. Tal pedagogia buscava preparar mais do que uma pessoa, mas fortalecer uma coletividade (demos). Uma democracia consubstanciada no chamado "bem viver", onde ter o controle dos afetos facilitaria o desenvolvimento das virtudes.

Ao contrário da aristocracia, agora a busca seria voltada a criação não de uma estirpe e sim de um legado, já que o conhecimento seria de domínio público e transmitido através das gerações, uma herança de virtuoses. Preparar para a vida também consiste em encarar a morte, ter a coragem de lidar com esse fator inevitável, preparar-se de modo que possa lidar com duras adversidades e dali emergir, numa reflexão, que ao contrário de Narciso, não leva para o fundo de águas ilusórias, mas o faz estar diante da verdade. Também observa-se uma mudança de perspectiva, que contrária ao pensamento cosmológico, faz do homem uma evidência, criando um antropocentrismo, onde interessa agora saber sobre os prazeres e as angústias humanas e se aprofundar nelas. Agora, duas máximas socráticas assombram o pensamento grego, "só sei que nada sei", com a eterna busca pelo saber que tem como resultado a máxima ignorância, e o "conhece a ti mesmo", tornando o cidadão ciente da responsabilidade no cuidado de si e a necessidade de estar em constante disciplina de aprendizado. Mais do que nunca, a episteme estava em voga.

PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José. (orgs). Introdução à Filosofia da Educação. Temas Contemporâneos e História. São Paulo: AVERCAMP, 2007.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 14/04/2021
Código do texto: T7231939
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