Infância. Entre educação e filosofia.
O conceito de razão explicadora aparece como algo espacial, já que a explicação se faz a partir da distância, sendo o explicador uma espécie de redutor desse distanciamento, ainda que ocorra prejuízo no encurtamento de um percurso. Esse outro que explica, chamado de “terceira explicação”, leva ao questionamento do porque alguém não poderia por si só entender um texto. A autoridade da lógica explicadora faz com que seja delegada a um único que sabe, legitimando seu saber pelo privilégio do saber, criando-se um processo produtivo de explicações, que apenas criam novos produtos numa mecânica sem necessidade de justificação.
Forma-se uma pedagogia inaugural, um sustentáculo da falta de compreensão, já que o incompreensível se faz necessário em toda estrutura de explicação. Embrutecendo as inteligências que se sujeitam a outras. Cria-se um parâmetro, ou seja, define-se o que é superior e inferior.
A filosofia socrática alimenta essa dependência explicadora, já que mesmo numa possível emancipação, existe a ideia de discípulo e subordinação ao método do mestre; O escravo é o grande símbolo desse ser inferior, embrutecido, que será tocado pela sabedoria falsamente emancipadora de Sócrates, que conduz aquele que se sujeita a ele de forma premeditada, até que se convença da lógica do filósofo grego. Rancière enxerga esse Sócrates como um prolongador da desigualdade social, sendo que o desigual não é necessariamente rui, já que a inquietude pode ser justamente aquilo que se contrapõe a um saber pretensamente positivo.
Na argumentação de Rancière, a igualdade das inteligências é algo basilar. Não busca uma verdade, mas a emancipação de um princípio veraz de potencialidades. A grande expressão é esse compartilhar da humanidade, partilhar e não apenas experimentar. O cogito cartesiano habitando a todos, se desapegando de ter razão e aí sim possibilitando que a razão venha a ser.
KOHAN, Walter Omar. Infância. Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.