EPIFANIAS como se fossem crônicas – Ester de Abreu Vieira de Oliveira. Formar 2020A
Em seu livro EPIFANIAS como se fossem crônicas, a professora Ester de Abreu Vieira de Oliveira imbrica a sua infância em Muqui, onde nasceu, com a própria história do surgimento da escrita, como se a sua alfabetização estivesse inserida nesse contexto, por aonde viria a navegar e ainda navega, desde as recordações da competência declamatória do pai em poemas longos até o painel traçado da sua trajetória como poeta e professora, citando algumas das suas condecorações merecidas e feitos de pesquisadora na área das letras, principalmente nas suas incursões hispânicas, entre as quais os estudos sobre Don Juan, personagem criado por Tirso de Mileto.
O poder da literatura nas páginas corridas do livro é enaltecido com deslumbramento e humildade, sim, a escritora capixaba se vangloria muito mais com as obras que cita do que com os seus próprios escritos, razão de sua excelência como professora.
Muqui para a lá nascitura menina Ester de Abreu Vieira de Oliveira, entretanto, não nos parece a aldeia que traduz o mundo, pelo menos este resenhista não a sentiu assim nos textos como se fossem crônicas, isto é, a professora Ester canta a sua terra natal de uma forma íntima e familiar, relembrando parentes caminhantes entre os morros de Muqui, onde ela mesma foi uma andarilha atenta. Muqui é Muqui, nada além de Muqui, um lugar ventral e maternal, onde o convívio com as figuras locais tem cheiro de comércio puro, mediado por olhares bem mais do que palavras, como se fossem um mistério amoroso, cabendo como epifania, revelação de um tempo maravilhoso da infância até às recordações, quando o passado habita o presente.
Aliás, a dimensão do mundo, se se faz presente, tem a humildade de não ser a do mundo inteiro numa xícara de café interiorana, seja porque a autora se especializou em conhecer escribas dramaturgos em língua espanhola, inclusive da América hispânica, apesar de viver na América Ibérica, desde Muqui até além das fronteiras nacionais, dando um salto desde o Espírito Santo até à Espanha, onde é reconhecida como estudiosa profunda das letras espanholas, com o óbvio passeio por países fronteiriços com o Brasil.
O tom íntimo de EPIFANIAS como se fossem crônicas é tão transparente quando tudo que pode caber em uma vida de claros propósitos, a de se emocionar com a palavra e a escrita, ambas primordiais instrumentos de vida capazes de ser a própria vida, isto é, quando o coração navega no mar mente e faz do ser a própria obra.
A leitura fluída do livro faz o leitor navegar em uma superfície segura, e o navegar seguro é apenas para os sábios e os mestres.