Sonetos Luís de Camões

Pouco se conhece da vida do grande escritor português da Renascença, Luís Vaz de Camões. Estima-se que ele tenha nascido em 1524/1525, em Lisboa, Alenquer, Coimbra ou Santarém, e morrido, em 1579/1580, em situação de miséria, tanto que seu enterro foi financiado pela Companhia de Cortesãos, uma instituição beneficente.
Na época que Camões vivia, a Europa desfrutava do Renascimento, movimento esse que promoveu uma ruptura das artes com os moldes eclesiástico, em voga na Idade Média, diminuindo assim aquele poderio da Igreja Católica.
Esse livro contém 163 sonetos de luís de Camões todos decassilábicos, para quem aprecia sonetos, é um prato e tanto. Só para ter ideia do talento desse autor, a obra “Os lusíadas “foi toda escrita em versos decassilábicos. Para apreciação deixarei alguns sonetos desse gênio da literatura Portuguesa e Mundial, entre eles o famosíssimo soneto do amor que é tão conhecido no meio acadêmico.
 

Amor é um fogo que ardessem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
 
É um não querer mais que bem querer,
É um solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
 
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter, com quem nos mata, lealdade.
 
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
 
 
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
 
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve), as saudades.
 
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E, enfim, converte em choro e doce canto.
 
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
 
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
 
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia,
 
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Coo se a não tivera merecida;
 
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.

 
O primeiro soneto, ao mencionar sobre amor, ele é a referência. O segundo soneto, a transitoriedade da vida é algo que assusta o poeta e no terceiro soneto, aquela passagem de Jacó com Labão, que já lí inúmeras vezes, na mente do gênio, virou esse primor.
 
ISBN – 978-85-943-1886-2
Principis, Jandira, SP, 2019
Terceira edição
192 páginas
 
 
 
 

 
Simplesmente Gilson
Enviado por Simplesmente Gilson em 24/05/2020
Código do texto: T6956419
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