Lírio de papel
Plantei os lírios nos campos do viver, eu vi suas pétalas se erguendo, tomando formas de lindeza, crescendo para se expor ao sol e notei outros tantos olhares a lhe contemplar com risos estampados e com o coração agradecidos em vê-lo tão formoso. Vozes ecoavam em coro chegando dizer: Que lindo, que belo, há de crescer fortalecido.
Quisera, talvez, ter um olhar mais denso, mais fecundo, mais rico e mais protetor, para sempre cuidá-lo e jamais vê-lo pendido por falta de nutrientes desses cuidados citados.
O lírio balançava de um lado pra outro, sem demonstrar cansaço, sem medir o esforço bailado, mesmo que no seu intimo (e para si só) ele dissesse: É tão compensador dançar aos ventos, mas cansa.
O tempo, arrastando-se em cumplicidade ao lírio, ia passando espargindo e levando pequenas lembranças ao fazê-lo bailar. Ventos soprantes em vias tantas, exploradas pelo ronco forte do mesmo vento propulsor, cuja missão era tão somente seguir o curso desejado.
O lírio foi se sentindo fraco, pois o vento diminuíra aquela propulsão que o fazia bailar alegremente por entre as vias, perante os olhos e perante os corações que o tinham como forte, seguro e firme. O vento brando, (Aquele que era macio feito seda produzida recentemente do casulo) começava transformar-se num vendaval. Isso fê-lo sentir-se atingido e a partir dali, o lírio que tanto encantava, já não se sentia mais útil.
A haste de sustentação começou declinar e por mais que eu regasse, eu via o lírio definhando, curvando-se até tocar o solo. Imaginei um choro sentido que vinha do âmago do lírio que tudo que ele queria, era espalhar (além da sua essência), o seu porte dividido em cota de contribuição para um existir perpetuo.
Notei, que até o lírio, por mais lindo, forte, admirado que ele seja ele também é capaz de definhar sem que haja um prévio aviso para isso acontecer.
Tudo para crescer forte sadio e robusto, precisa de mãos zelosas que reguem com água pura, limpa e sadia, para que venha enfeitar melhor o jardim da nossa existência, o pomar da nossa vida, o quintal do nosso viver.
O Lírio, (Antes tão forte) ao vê-lo hoje suscetível, arrancou de mim um pesar solitário, mas que também não deixei transparecer para que outros olhares não notassem a minha dor.
Carlos Silva é poeta, Mestre de cultura popular, é o idealizador do projeto Leve Livros em Caldas de Cipó – BA.
(75) 99838 - 5777 "Telezapvivo"