Cântico dos Cânticos
- micro resenha -
 

Um poema erótico, da ternura de Iahweh, homem e mulher, encontra-se no livro Cântico dos Cânticos - Shir hashirim, genitivo superlativo da língua hebraica – da Bíblia semita. Texto inserido no coração da Bíblia, é pouco explorado na vida da Igreja. Ainda que polêmica, a sua origem atrela-se ao período do humanismo Salomônico (séc. IX), influenciado pela literatura predominante nas adjacências. Talvez, essa conotação – uma suposta autoria de Salomão - seja um dos motivos que tornou possível sua aceitação no cânon do Antigo Testamento, entre as Sagradas Escrituras.

Amoroso canto nupcial, coloca o amor humano em patamar sagrado. Desta forma, redime o ato original do pecado inserido nas mentes humanas, através dos tempos, pela fraqueza de Adão e Eva. O Cântico descreve com detalhes - e sem pejo - os relevos do corpo humano nu. Exalta-o. A única referência a Deus não surge sob a forma de agradecimento pela fruição daquele encontro de amor, sendo lembrado apenas no momento em que o amor se torna intensamente carnal: "Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina".

No decorrer do poema, o amado maravilha-se diante da amada, cuja beleza leva-o à perda dos sentidos:
 
“[...] Os teus pés...
como são belos nas sandálias,
ó filha de nobres;
as curvas dos teus quadris,
que parecem colares,
obras de um artista.
Teu umbigo... essa taça redonda
onde o vinho nunca falta;
teu ventre, monte de trigo
rodeado de açucenas;
teus seios, dois filhotes,
filhos gêmeos de gazela
pastando entre os lírios;
teu pescoço, uma torre de marfim;
teus olhos, as piscinas de Hesebon
junto às portas de Bat-Rabim.
Teu nariz, como a torre do Líbano,
voltada para Damasco;
tua cabeça que se alteia como o Carmelo,
e teus cabelos cor de púrpura,
enlaçando um rei nas tranças.
Como és bela, quão formosa,
que amor delicioso!
Tens o talhe da palmeira,
e teus seios são os cachos.
Pensei: ‘Vou subir à palmeira para colher frutos!’
Sim, teus seios são cachos de uva,
e o sopro das tuas narinas
perfuma como o aroma das maçãs.
Tua boca é um vinho delicioso
que se derrama na minha
molhando-me lábios e dentes [...]
 
Eis alguns dos apaixonantes versos da amada:
 
“[...] Eu sou do meu amado,
seu desejo o traz a mim.
Vem, meu amado,
vamos ao campo,
pernoitemos sob os cedros;
madruguemos pelas vinhas,
vejamos se a vinha floresce,
se os botões estão se abrindo,
se as romeiras vão florindo:
lá te darei meu amor...
As mandrágoras exalam seu perfume;
à nossa porta há de todos os frutos:
frutos novos, frutos secos,
que eu tinha guardado, meu amado, para ti [...]”

Trata-se de um amor em brasas, que não sucumbe a nenhuma intempérie: "As torrentes não poderiam extinguir o amor, nem os rios o poderiam submergir." Muito belo.


Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 05/04/2011
Reeditado em 29/10/2017
Código do texto: T2891686
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