Instauração da Língua Portuguesa no Brasil Colonial
A questão referente à língua no período colonial brasileiro, começa pela diversidade linguística encontrada pelos lusitanos através do contato com nativos da “nova terra”.
Tal diversidade fez com que os lusitanos procurassem conhecer e tentar compreender tais línguas com intuito de introduzir sua própria cultura, uma forma de aculturação que estava sendo estudada minuciosamente. Neste processo, os jesuítas com a catequização dos nativos, procuraram introduzir a religião à partir da compreensão da nova linguagem.
Com o advento do mercantilismo ocorre, além da língua portuguesa, a introdução dos escravos africanos e consequentemente mais uma linguagem inserida neste contexto.
Percebe-se que os portugueses já haviam realizado com os indígenas um processo de missigenação e teria ocorrido uma certa “tolerância” em relação a língua nativa. Com os africanos ocorre resistência a tal amálgama e procura-se coibir movimentos organizados com intuito de uma unificação linguística entre povos vindos da África.
Conforme expõe Luiz Carlos Villalta: "As autoridades procuraram evitar a formação desses núcleos solidários, quer desturindo os quilombos, que causavam pavor aos agentes da Coroa – e, de resto, aos proprietários de escravos em geral -, quer reperimindo os batuques e os calundus promovidos pelos negros. Sob a perspectiva metropolitana, tais manifestações, criando uma identidade cultural, poderiam gerar uma consciência danosa para a ordem colonial."(VILLALTA,1997: 342).
Para tornar ainda mais complexa a questão linguística, ocorreu a chegada de holandeses ao território colonizado, até demonstrando certa “tolerância” a propagação de costumes e não interferência em questões de ordem mítica das diversas culturas. Embora os holandeses tenham criado restrições étnicas que propagavam exclusões.
As necessidades mercantis fazem surgir a necessidade de uma língua unificada, o que possibilita a língua portuguesa assumir um caráter formal e de cunho internacional, enquanto a linguagem habitual era uma missigenação dos diversos dialetos nativos amalgamados à própria linguagem lusitana com fortes “pinceladas” de influência africana.
Posteriormente ocorre uma divulgação da língua portuguesa, inclusive com a introdução de escolas locais, levando-se em consideração que a “língua culta” da época era o latim, que ficava restrito a uma ínfima e privilegiada parcela da camada social.
Com a determinação do Marquês de Pombal no Século XVIII, a língua portuguesa se torna oficial e a indígena e africana são abolidas, embora grande parte da população não estivesse adequada a tal imposição, mantendo através da oralidade a transmissão através do tempo da missigenação linguística, agora proibida.
Pode-se verificar com Luiz Carlos Villalta : "Na segunda metade do século XVIII, sob Pombal, a Coroa começou a desenvolver um política de língua, impondo o uso do português e priorizando a gramática portuguesa. No Grão-Pará e Maranhão, área em que esta política foi mais incisiva, procurou-se difundir o português para legitimar a posse da terra e, inversamente, coibir o uso do nheengatu, visto como um obstáculo e, principalmente, temido como meio de controle dos índios pelos missionários. Renomearam-se as aldeiras indígenas com nomes de localidades portuguesas (Santarém e Soure, por exemplo), proibiu-se o uso de outra língua que não o português e incentivou-se o ensino deste, primeiro, por escolas locais e, depois, por seminários, em que os alunos viviam sob internato. Os êxitos, porém, foram restritos. O ensino do português nas escolas locais não levou ao abandono do nheengatu, em virtude da força deste na cultura oral, no privado e no público."(VILLALTA,1997: 340 e 341).
Enquanto se observavam missas em latim restritas a uma ínfima porcentagem da população, temos num segundo plano uma língua portuguesa oficializada e sendo administrada afim de proporcionar uma certa governabilidade, chegando a um terceiro plano, criando uma diversificação tripartite, podemos constatar uma missigenação linguística mais palatável à realidade da esmagadora maioria da população, procurando-se resgatar valores endógenos sobreviventes a este processo de aculturação.
Assim, temos uma língua triparte sendo assimilada em três esferas: elitista, oficial e popular ou habitual. Podendo destacar a oficial e habitual como de domínio público, enquanto a elitista torna-se restrita, demonstrando o domínio linguístico como reflexo de uma evidente diferenciação social.
Referência Bibliográfica:
VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In: SOUZA, Laura de Mello e (org.). História da Vida Privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo : Companhia das Letras, 1997.