História do Cerco de Lisboa (1989) - José Saramago

Escrever um romance não é uma tarefa fácil, imagine então elaborar duas histórias de amor em um só enredo. Publicado em 1989, ninguém menos do que José Saramago entrelaça em "História do Cerco de Lisboa", duas narrativas na mesma obra. Começando pela vida de Raimundo Silva, um solteiro cinquentão, que trabalha como revisor ortográfico em uma editora de Lisboa.

Raimundo recebe a tarefa de revisar um livro que contava a história do famoso cerco a Lisboa, fato ocorrido em 1147, quando os portugueses com a ajuda dos cruzados tomaram a cidade dos mouros, depois de mais de 350 anos de ocupação.

Durante a revisão ele se depara com a seguinte frase: "os cruzados ajudaram os portugueses a conquistar Lisboa", nessa passagem, o revisor acrescenta por livre e espontânea vontade um "não" no meio da frase, transformando-a em: "os cruzados não ajudaram os portugueses a conquistar Lisboa". Mas esse "não", acaba não passando despercebido, e os chefes da editora descobrem o "erro proposital" treze dias depois. Como punição, eles contratam uma revisora-chefe quinze anos mais nova, com o objetivo de supervisionar o trabalho de Raimundo.

Para surpresa do leitor, os dois acabam se apaixonando um pelo outro. Maria Sara, a nova revisora-chefe, desafia Raimundo a reescrever a História do Cerco de Lisboa, como se o "não" introduzido por ele se tornasse real.

Nascem a partir daí, dois romances, um é entre o "velho revisor e sua jovem chefe", e o outro é narrado pelo próprio Raimundo em sua nova versão do "Cerco''. Trata-se de uma história de amor entre Mogueime, um soldado português e Ouroana, viúva de um cruzado alemão morto durante a batalha no cerco em 1147.

Arthur Nestrovski, articulista da Folha de São Paulo, classifica a "História do Cerco de Lisboa", como a "cifra de uma longamente adiada, legalmente sofrida, demoradamente saboreada, maravilhosa e comum história de amor".

Combativo militante de esquerda, Saramago nasceu em 1922, em Azinhaga, uma aldeia de camponeses ao sul de Portugal. Por causa de dificuldades financeiras, cursou apenas o ensino secundário. Antes de publicar seu primeiro livro "Terra do Pecado" (1947), o escritor foi serralheiro, mecânico, desenhista e gerente em uma editora. Por causa da censura imposta em 1991, pelo governo português ao seu livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo", Saramago se exilou em Lanzarote nas ilhas Canárias, Espanha, onde vive até hoje.

Autor de mais de quinze livros, foi o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o prêmio Nobel de Literatura (1998), sua obra está traduzida em mais de vinte e cinco idiomas.