O velho e o mar (1935) - Ernest Hemingway
Jorge Luis Borges (1899-1986), escritor argentino, defendia a opinião de que “não se deve ler nada por obrigação, e, se, não entenderem uma peça literária ou não gostarem dela ou, pior, se a acharem entediante, deixem-na de lado; não a leiam”.
Esse pensamento de Borges, dificilmente vai servir para aquele leitor que tiver em mãos um livro do escritor estaduniense Ernest Hemingway, principalmente se essa obra for O Velho e o Mar.
Ao descrever a saga de Santiago, um velho e solitário pescador cubano que passou oitenta e quatro dias sem pescar nenhum peixe, Hemingway usou uma linguagem simples, abusando das frases curtas e dos princípios jornalísticos de clareza e concisão.
Cansado da gozação dos outros pescadores, Santiago decide ir pescar mais longe, em águas onde jamais algum pescador das nove praias de Havana ousara ir. Quando o barco já tinha se afastado o suficiente da terra firme, o velho viu uma de suas varas dobrar-se violentamente. Um peixe gigantesco tinha mordido sua isca e estava começando a puxar sua embarcação para cada vez mais longe. Começava então uma luta de três dias entre o homem e o animal.
Moacyr Scliar, escritor gaúcho, acredita que os leitores se sensibilizaram, sobretudo, com “o aspecto simbólico do texto: o velho era claramente o próprio Hemingway, o peixe com que ele lutou, a literatura ou a própria vida”. O estaduniense é considerado por alguns
críticos, o “herói da prosa direta e limpa”. Seu texto econômico e objetivo lhe rendeu fama mundial. "Não se pode descrever o rugido de um leão selvagem. Pode-se dizer apenas que se ouviu e que o leão rugiu”, dizia o escritor, que incorporou suas raízes jornalísticas à literatura.
Como repórter, Hemingway alistou-se no exército italiano em 1916 e foi gravemente ferido na frente de batalha. Ao deixar o hospital, passou a trabalhar como correspondente em Paris. Aos 20, fez a cobertura da Guerra Civil Espanhola, onde produziu Por Quem os Sinos Dobram (1940). Também foi correspondente na Segunda Guerra. Sobre as touradas na Espanha, escreveu Morte à Tarde (1932) . De suas experiências como pescador em Cuba, surge O Velho e o Mar, que lhe rendeu o Prêmio Pulitzer em 1953.
Andou caçando elefantes pela África, onde sofreu um acidente de avião, relatando esse período em As Verdes Colinas da África (1935). Viciou-se em touradas, pescou no Caribe, ganhou um Prêmio Nobel em 1954 e se deitou com muitas mulheres em suas aventuras pelo mundo. Aos 62 anos incompletos, suicidou-se com um tiro de uma de suas armas de caça.
Marcelo Rubens Paiva, jornalista, ressalta que a literatura de Hemingway gira em torno de sua vida pessoal. “Não se sabe o que é Hemingway, e o que é inventado por ele. Ele é o que escreve. Seus diálogos constroem a narrativa, conduzem a trama. Ele trouxe para a literatura elementos de uma cultura popular desprezada: briga de galo, pesca, tourada e caça. Os personagens são desertores, niilistas, vítimas da ilusão de que existe algo melhor no amanhã”.