O Caso Morel (1973) - Rubem Fonseca
Considerada uma das obras mais radicais de Rubem Fonseca , “O Caso Morel”, publicado no auge da ditadura militar, em 1973, foi o primeiro romance do escritor. Até então Fonseca só havia lançado livros de contos, “Os Prisioneiros” (1963), “A Coleira do Cão” (1965) e “Lúcia Mc cartney” (1969).
No centro da história está a figura de Paul Morel, um típico artista de vanguarda dos anos 1970, preso por um assassinato que nem ele mesmo sabe se cometeu. E de sua cela narra histórias que misturam sexo e violência. Nessa obra polêmica, Morel faz uma série de reflexões bombásticas sobre arte e literatura. “Em todo Louvre só escapa a batalha de Uccello. O resto é lixo”, dizia o artista.
Uma das características marcantes da narrativa de Rubem Fonseca é sua linguagem corrosiva, recheada de confissões perversas e obscenas. “Pela cara da ex-trapezista (hoje prostituta), percebi que ela estava tão na merda quanto eu”, escreveu Morel, em um diário onde havia decidido contar sua história. Para escrever suas experiências, ele teve a ajuda do ex-delegado e escritor em crise Vilela, que ia semanalmente na prisão buscar os manuscritos de Morel, para mandar datilografar.
Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora (MG), em 1925, e vive no Rio de Janeiro desde os oito anos de idade, onde formou-se em direito pela antiga Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. Estudou Administração e Comunicação pelas universidades de Nova York e Boston, foi professor da Fundação Getúlio Vargas, crítico de cinema e comissário de polícia em São Cristovão (RJ), durante a maior parte do tempo em que trabalhou, até ser exonerado em 1958.
Foi nessa fase em que trabalhou na polícia, que Fonseca buscou inspiração para escrever a vida degradada dos marginais e o cotidiano entediado das elites, fielmente registrados com uma brutal riqueza de detalhes em “O Caso Morel”.
Maurício Santana Dias, jornalista, ressalta que Fonseca foi o primeiro escritor brasileiro “a encarar sem rodeios a violência urbana em todos os extratos sociais, do traficante ao empresário, da socialite à prostituta, do mendigo ao banqueiro. Sempre com um estilo direto, coloquial e cortante”.
Fonseca é um escritor que não gosta de badalações, nem de fotos e entrevistas. Dentre suas obras mais conhecidas estão, “Feliz Ano Novo” (1975), proibido pela censura durante a ditadura militar (1964-1984), “O Cobrador” (1979), “A Grande Arte” (1983), “Bufo e Spallanzani” (1986), “Vastas Emoções e Pensamentos Perfeitos” (1988), “Agosto” (1990), “O Buraco na Parede” (1995) e “Diário de um Fescenino” (2003).