MEMÓRIAS PÓSTUMAS

MEMÓRIAS PÓSTUMAS (crítica literária)

Machado de Assis era um adorável detalhista – embora haja quem critique essa característica. A tal ponto de fazer observações nas suas narrações de dúvidas seguidas sobre um determinado assunto que a personagem rumina nas suas divagações para lembrar-se depois da certeza do detalhe e citá-lo como desfecho. Poderia voltar no capítulo e simplificar, mas não, tinha que ser assim! Como alguém que, num diálogo franco, diz tudo que pensa sem cuidados desnecessários e depois não tem como reeditar as falas ao interlocutor. Fala o que pensa na narrativa como se realmente vivesse o momento com as nuances próprias de uma realidade imutável. Isso, certamente, enriquece o texto. Memórias Póstumas de Brás Cubas é assim. Muitos desistem da sua leitura no começo e perdem, com isso, o sabor da obra. Quem ultrapassa o período crítico que cobra paciência e perseverança recebe, depois, o louro dos vitoriosos. É uma leitura que enriquece, mas só sai da pobreza quem confia na mina e cava persistentemente suas entranhas. Porém, logo que se avizinha o filete de ouro o restante do trabalho é prazeroso... e compensador!

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 31/07/2006
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